No Antigo Testamento aprendemos duras lições: por que Deus abandonou Seu próprio povo e o entregou nas mãos de seus inimigos, fazendo com que ele não apenas diminuísse, mas também fosse completamente exilado de sua terra, que passou a ser habitada por nações estrangeiras?
A razão é dupla: Primeiro, a violação da fé, ou seja, o abandono da adoração ao Deus Único e Verdadeiro, e a queda para a adoração dos deuses das nações. Segundo, a violação dos Mandamentos divinos. E essa violação é a consequência inevitável do afastamento do Deus Verdadeiro. Quando as doutrinas que nos identificam quem é Deus são alteradas, os Mandamentos relacionados a Ele também mudam automaticamente.
No Novo Testamento, a questão do Deus Único e da pluralidade de deuses torna-se doutrinariamente encarnada no assunto da Igreja Única versus a multidão das chamadas igrejas. Cristo veio ao mundo e nos deixou uma Igreja e uma Fé; e essa tem sido a luta da Igreja até os dias de hoje: como preservar a verdade da Igreja Única, que é o Corpo de Cristo que não pode ser dividido. Se a Igreja não tivesse condenado diligentemente todo ensinamento distorcido e herético em seus Santos Concílios, ela não seria mais a Igreja. Cada pessoa acreditaria em um Cristo criado por ela mesma, e o cristianismo se tornaria uma religião pagã. Cristo está presente porque a Fé Apostólica ainda está presente e preservada na Fé Ortodoxa.
Assim, Deus abandona Seu povo quando Seu povo O abandona, porque Ele respeita a liberdade sagrada que deu ao homem. O principal problema é de fé, não de política ou economia. Os cristãos vendem a terra de seus pais e emigram porque seu senso de fé se enfraqueceu. Eles emigram devido à falta de fé, à falta de confiança em Deus e à falta de confiança em Sua providência - ou porque pensam apenas em riqueza material, não em riqueza espiritual. Uma Igreja espiritualmente fraca, que se rende ao espírito desta era, é completamente incapaz de fornecer qualquer alimento espiritual a seu povo. É por isso que a incredulidade se espalha entre as pessoas, que então migram, caem em muitos pecados e apostatam de Cristo.
Toda a corrupção, as doenças psicológicas e as influências demoníacas que estão aumentando de forma alarmante entre as pessoas - irresponsabilidade, aumento das taxas de divórcio, afastamento do casamento e, se elas se casam, deixam de ter filhos por medo do futuro - tudo isso é causado principalmente pela falta de fé. A Verdadeira Fé significa a entrega total a Deus diante dos obstáculos da vida.
Quando nos arrependemos e obedecemos aos Mandamentos da Fé, essa certeza nasce dentro de nós: a de que Deus está conosco e em nós, e nunca nos abandonará. O arrependimento sempre esteve ligado à fé. Deus permite guerras e perseguições severas contra Seu povo, não para que eles temam e abandonem a terra de seus Santos, mas para provar sua fé e lembrá-los do arrependimento.
Ao longo da história, os cristãos deste Oriente sofreram perseguições muito mais severas do que as de hoje. Mas eles as enfrentaram com a simplicidade da fé e do arrependimento. Eles permaneceram em sua terra, não porque não pudessem emigrar - pois a conversão à religião de seus perseguidores muitas vezes vinha acompanhada de incentivos materiais e emocionais muito maiores do que a emigração moderna - mas porque sua firmeza não era fruto da força humana, mas de um poder divino invisível, da Graça de Deus. Nossos antepassados que nos transmitiram a fé nesta região eram humildes e gratos. Assim, eles aceitaram as perseguições como uma dispensação divina para conhecerem seus pecados e se arrependerem. Com profundo arrependimento e contrição, eles se voltaram para Cristo e para as intercessões de seus santos. Na simplicidade de sua fé e em sua firmeza nela, eles cresceram em arrependimento e amor a Deus, pois experimentaram em primeira mão a ajuda de seu Cristo, de sua Virgem e de todos os seus Santos, e a pronta resposta de suas orações.
Muitos bispos e padres de hoje, em vez de pregarem sobre fé e arrependimento, geralmente pregam contra o "fanatismo religioso." Consciente ou inconscientemente, eles matam a fé no coração de seu povo. A adesão persistente às doutrinas exatas da fé não é fanatismo - é um mandamento de Deus e dos Concílios da Igreja. Somente a fidelidade às leis da (Verdadeira) Fé pode nutrir a fé do povo e preservar a Igreja de erros e desvios. Os sermões que se concentram apenas na moralidade, negligenciando as questões da fé, espalham uma crença superficial entre as pessoas. A fé superficial em Deus não possui arrependimento algum e morre gradualmente na alma, pois não possui profundidade espiritual.
Esse arrependimento deriva da fé, não de nós mesmos. E a força da fé recebemos de Deus, não dos homens. O poder de Deus está presente exclusivamente em Sua Igreja. Na verdade, o Espírito sopra onde quer, mas não para levar ao erro ou ao desvio aqueles em quem Ele opera, e sim para conduzi-los à verdade e à única Igreja verdadeira, que detém a plenitude da verdade.
A Igreja é a primeira responsável por tudo o que acontece ao seu povo. A obediência do bispo e do padre à Igreja e sua fé, é o que ensina o povo a amar a Igreja e a ser-lhe obediente. O arrependimento do bispo e do padre ensina o seu povo a arrepender-se, e a amar a Deus e os Seus Mandamentos. Os verdadeiros fieis, quando veem seu bispo obediente às leis e à fé da Igreja, se alegram com ele e lhe obedecem com gratidão. Mas quando o veem transgredindo, sua confiança nele — e na Igreja — é abalada. Os bispos e os padres são aqueles que mais precisam de arrependimento. Eles devem chorar por seus pecados e pelos pecados de seu povo. Eles não são senhores desta era, mas penitentes. O arrependimento abre os olhos internos de sua mente (nous) e para conhecer a vontade de Deus: que [nos mostra que] a crise que os cristãos estão enfrentando neste Oriente está enraizada na fé e no abandono de Deus, não em circunstâncias opressivas ou na política mundial.
Por que os cristãos estão perdendo sua presença neste Oriente? Não é porque estão perdendo a Graça de Deus? E o que confirma essa perda da Graça é sua rendição ao espírito do ecumenismo e da modernização. Esse espírito ecumenista mata o arrependimento na alma humana, porque antes mata o amor pela fé Ortodoxa nessas almas. Na Ortodoxia, o amor de Deus vem de uma única fonte: a Igreja e sua fé. O amor de Deus não é emocional, como os racionalistas o retratam, mas divino — é o fruto da efusão da Graça Divina em uma alma que é fiel a tudo o que Deus revelou à Sua Igreja.
O Deus dos Ortodoxos não é deste mundo. Ele não busca números para se vangloriar em poder ou glória fútil. Ele busca testemunhas de Si mesmo e da Verdade eterna que confiou à Sua Igreja. Deus nos abandona - Seu próprio povo - porque nos tornamos um povo teimoso que se rende ao espírito dos tempos. Um povo que não quer preservar a fé que lhe foi transmitida ou prestar testemunho da Verdade. Não digam que nos tornamos poucos neste Oriente; nosso Cristo não trabalha por meio de multidões ou números, mas por meio da Verdade. É por isso que Ele disse: “Eu vim ao mundo para dar testemunho da Verdade”. A emigração de nosso povo indica abandono mútuo: as pessoas se afogam na globalização religiosa e não dão testemunho da Verdade, e o resultado inevitável é que Deus as abandona.
Quando o povo do Antigo Testamento temeu por sua existência e fez alianças com nações estrangeiras para garantir sua terra, Deus o abandonou e o dispersou. Mas quando eles reconheceram seu pecado e apostasia, arrependeram-se e confiaram somente em seu Deus, Ele os restaurou à sua terra e os multiplicou nela.
Será que nós, neste Oriente, voltaremos a confiar somente no Deus de nossa fé Ortodoxa - a única fé que nunca foi alterada ou transformada? Que nos seja concedida uma parte desse arrependimento, e que Deus se lembre de nós em nossa terra, preserve o remanescente entre nós e nos multiplique novamente nela.
Assim como a salvação eterna requer apenas fé Ortodoxa e arrependimento sincero, também nossa presença contínua neste Oriente depende desses dois elementos: fé Ortodoxa pura e arrependimento Ortodoxo.
Fortaleça seu povo em sua Ortodoxia, ó bispos e sacerdotes de Deus, para que Deus possa fortalecê-lo em sua terra. Não permitam que a fé e a salvação sejam reduzidas a conceitos sociais-humanistas, mas que permaneçam divinas, pois são do Senhor e para Ele. Não misturem nossa sagrada Ortodoxia com todos os desvios nascidos do orgulho humano. A Ortodoxia é Verdade e é Luz. Ela é uma Luz para as nações que buscam a Verdade. Que essa luz brilhe para o mundo. O mundo precisa dessa luz para contemplar o Verdadeiro Deus; o mundo precisa da Verdade como uma escada confiável para a salvação. Deus é Aquele que nos colocou neste Oriente, com muitos talentos espirituais, para prestarmos testemunho do verdadeiro Deus. Não os enterremos. Transformemos esta terra, na qual nos esforçamos para permanecer, de uma terra de apostasia em uma terra abençoada por testemunhar a Verdade e a fé de nosso Senhor Jesus Cristo.
