A verdadeira compaixão se baseia no amor ao próximo: o amor torna a outra parte, por assim dizer, outro “eu”, um com você. (Já) o sentimentalismo está fundamentado no amor próprio: ele nos entristece não como resultado do sofrimento da outra pessoa, mas sim por causa de nosso próprio humor arruinado; em vez de nos esforçarmos para acabar com o sofrimento no mundo, nos esforçamos para tirar as imagens do sofrimento de nosso campo de visão.
A arte e a literatura predispõem a alma humana à imitação, ao envolvimento emocional em uma determinada situação. Aquele que se acostuma a sentir o estado emocional dos personagens nos palcos, nas séries de TV e nos romances, começa a funcionar como ator, “representando a vida”. A arte incentiva o desenvolvimento de uma fluidez elevada no estado da mente - muitas vezes em um nível patológico - e a transferência emocional para a imagem que se está enfrentando.
O amor sofre pela outra pessoa; ele sofre porque essa pessoa está sentindo dor. O sentimentalismo sente dor por si mesmo; sente dor porque uma imagem negativa do sofrimento de outra pessoa invadiu sua consciência e evocou emoções negativas e desagradáveis.
O amor é baseado em um desejo pelo bem do próximo, enquanto o sentimentalismo se baseia em um desejo de conforto emocional pessoal. A pessoa (sentimentalista) vê o sofrimento do próximo como uma dissonância desagradável em sua paz emocional pessoal. Uma pessoa sentimentalista não pode amar; ao contrário, ela pode se apaixonar, criar ídolos para si mesma, servi-los e, com eles, preencher sua alma. A outra face do sentimentalismo é a crueldade. Para uma pessoa sentimentalista, o que está além dos limites da experiência direta é estranho e inconsequente. Em “ O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupery, o autor desabafa: “Se minha pequena estrela se apagar, que me importa toda a Criação?”. Em outras palavras, aquela estrelinha pela qual me apaixonei é mais importante para mim do que toda a Criação.
Uma pessoa sentimentalista está pronta para chorar ao ver um cachorro doente e, ao mesmo tempo, permanece surda e indiferente ao sofrimento de milhões de pessoas, contanto que não tenha que ver o sofrimento delas. Sentimentalismo não é amor, mas sim impressionabilidade mórbida, histeria crônica e reprimida que toma o lugar do amor.
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