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Obediência: a base da Ortodoxia - Arquimandrita Gregorios(Estephan)





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Por Arquimandrita Gregorios(Estephan) - Abade do Mosteiro da Dormição da Mãe de Deus - Bkefitine 
  

Os apóstolos transferiram o ensino do Senhor Jesus Cristo para o mundo, juntamente com o dever de absoluta obediência a esse ensino. Dessa justa obediência aos mandamentos, passada de geração em geração, foi construída a Tradição, que é chamada de "Tradição Apostólica", abrangendo toda a fé da Igreja. É por isso que o apóstolo Paulo louvou a obediência dos Coríntios, dizendo: "Eu os elogio por se lembrarem de mim em tudo e por se apegarem às tradições, exatamente como eu as transmiti a vocês"(1 Coríntios 11:2). Pois a tradição, na mente Ortodoxa, é o critério para entender a fé. 
  
O oposto da tradição é heresia, assim como a transgressão é o oposto da obediência. Qualquer afastamento da Tradição é heresia. Ninguém pode entender a fé, exceto na maneira como ela foi entregue à Igreja pelos Apóstolos. Sobre os supervisores da Igreja, Clemente de Alexandria diz: “Eles preservam a bendita Tradição da fé que é transmitida diretamente dos santos Apóstolos.” E Eusébio de Ceasarea diz que Santo Inácio de Antioquia era um defensor dos fiéis contra heresias e que "ele firmemente os exortou na Tradição Apostólica". 
  
Assim, a abençoada Tradição emergiu da obediência. A obediência na Ortodoxia é uma parte inseparável da vida dos fiéis que perduram na jornada de sua salvação, pois na Queda nossa natureza humana perdeu a capacidade de discernir entre justiça e iniquidade, entre o bem e o mal. [Ela]Precisa de abençoada obediência  para enfrentar os efeitos deste estado caído-corrompido. Esta é a razão pela qual a desobediência se tornou o sinal de orgulho e erro abomináveis, enquanto a obediência é o sinal de abençoada humildade e abnegação. Orgulho e amor próprio, que são a fonte de todas as paixões e quedas, opõem-se à obediência. 
  
O conceito de obediência cresceu através das comunidades monásticas tradicionais, onde a obediência constitui o fundamento da jornada de todo monge. A oração pura e todo crescimento espiritual são produzidos através da obediência. O monge obediente tem seus sentidos internos limpos, sua mente iluminada e sua vontade purificada. Ele é capaz, nesta vida presente, de contemplar algo das revelações eternas de Deus. Mas o monge desobediente abre a porta para Satanás entrar e sair como quiser, condenando-se em uma mente confusa, onde os pensamentos são inquietos e as paixões agitadas. Para um homem, fazer sua própria vontade e se apegar a seus pensamentos constitui a origem de toda queda e uma maior adesão à desobediência de Adão. Cristo veio primeiro para curar nossa vontade própria, para nos ensinar obediência, entregando nossa própria vontade à Sua vontade Divina, da mesma maneira que Ele mesmo submeteu voluntariamente Sua vontade humana à Sua vontade Divina. Cristo nos libertou da iniquidade de nossa vontade caída e orgulhosa. Ele nos libertou através de Sua cruz e ressurreição, mas também através de sua obediência e exemplo vivo. 
  
É por isso que o monge promete, em sua tonsura, manter seus três votos monásticos, dentre os quais a obediência é a mais importante. 

Sobre esse conceito também é edificada a obediência dos fiéis leigos a seus pais espirituais, que mantêm a Santa Tradição e agem de acordo com ela. A característica mais importante de um pai espiritual na Igreja é sua absoluta obediência à Tradição Ortodoxa. É por isso que a Igreja toma um juramento e uma confissão de um bispo durante sua entronização, para que ele aceite o que a Igreja aceita e anatematize o que ela anatematiza. Assim, ele tem o direito de aceitar o que a Igreja anatematizou a partir de então? Somente essa obediência preserva a graça do Espírito Santo na Igreja, porque corta a raiz de toda heresia e ensinamento que se opõe à Tradição, causando separação da graça e morte espiritual. 
  
A obediência na Ortodoxia não é direcionada às pessoas; caso contrário, torna-se uma inclinação mundana. Quem é tendencioso não se importa com a Tradição da fé nem com o dogma, mas apenas com a pessoa com quem ele é tendencioso, independentemente de ser Ortodoxo ou heterodoxo. São Paulo alertou os coríntios contra tais inclinações. Portanto, a obediência, através do bispo e do pai espiritual, é para a Igreja e para a Santa Fé Ortodoxa na qual a Igreja é fundada. Isto é o que nossos Santos Padres chamaram de obediência à Santa Tradição, que deve ser plenamente representada na pessoa do bispo. Pois ele transmite a Tradição de tudo o que o Espírito ensinou continuamente à Igreja desde o princípio. Como tal, a Tradição se torna a jornada ou a história da salvação, não uma coleção de dogmas e práticas do passado. O verdadeiro bispo nasce da obediência, submetendo sua própria vontade a Deus e à Igreja. O bispo se submete a Cristo, cumprindo Seus mandamentos, e à Igreja, mantendo seus cânones. Cristo e a Igreja não são verdades separadas, mas uma verdade. O bispo que é infiel aos cânones da Igreja é desleal a toda a fé e se torna um adversário de Deus e da Igreja. O mundo tem suas maneiras de convencer, com diversos argumento, os muitos fiéis que foram confiados à salvação, dizendo que eles supostamente não se opõem à fé, mas fazem a vontade de Deus enquanto, na verdade, fazem sua própria vontade e resistem violentamente a quem discorda de suas opiniões. Santo Doroteu de Gaza diz que, se um homem não busca honestamente a vontade de Deus, mesmo que ele peça a um profeta, Deus colocará no coração do profeta uma resposta que se encaixa no engano do coração do buscador. Como a Bíblia diz: E se o profeta é enganado quando ele fala alguma coisa, eu o Senhor enganei esse profeta (Ezequiel 14: 9). 
  
Ninguém é enganado, a não ser aqueles que desprezam a obediência ao espírito Ortodoxo que a Igreja seguiu desde os dias dos Apóstolos até hoje, e que impõem seus próprios pensamentos que são prejudiciais à fé. Eles são muitos na Igreja hoje em dia. De boa vontade, eles se submetem ao espírito deste mundo, que é cheio de maldade, devassidão e ensinamentos heréticos. Eles transgridem e ignoram, sob o pretexto de que vivemos em uma época que exige tais mudanças e omissões. Eles se justificam com essas desculpas e sujeitam a Igreja ao secularismo e à conformidade com o espírito deste mundo. Santo Hilário de Poitiers diz: “Ela se orgulha de que o mundo a ama; o ódio do mundo era a evidência de que ela era de Cristo. ” 
  
Como o monge desobediente que não pode sentir a paz dentro de si, os que foram confiados à Igreja de Cristo, o bispo e os sacerdotes, não encontrarão descanso verdadeiro, a não ser por meio da abençoada obediência à fé, dogmas e cânones que definem o fundamento dessa fé. Nossos Santos Padres foram perseguidos pela fé e, nas profundezas de seus sofrimentos de exílio e martírio, sua paz interna era cada vez mais pura e silenciosa, por uma única razão - porque a Graça Divina estava testemunhando fortemente neles a glória da verdade que eles estavam defendendo. Mas seus inimigos estavam cheios de sentimentos de confusão, raiva e desejo de vingança. Santo Hilário de Poitiers expressa o estado de paz que experimentou quando os hereges o exilaram, dizendo: “Para mim, não reclamo dos tempos: regozijo-me, sim, que a iniquidade tenha se revelado neste meu exílio, quando, incapaz de suportar a verdade, bane os pregadores da sã doutrina, a fim de amontoar para si professores, segundo seus próprios desejos. Eu me glorifico no meu exílio e me alegro no Senhor. ” 

Como bispo, Santo Hilário entendeu que, a manutenção da santa Fé Ortodoxa não é cumprida, exceto rejeitando qualquer ensino que se oponha a essa fé. Ele defendeu essa fé como bispo, considerando que era a mesma fé dos Apóstolos. Ele disse como "um outro" Paulo: “Falei no que eu próprio acreditava, consciente de que, devido ao meu serviço de soldado à Igreja, lhe devia enviar, de acordo com o ensino do Evangelho, por essas cartas, a voz do ofício que exerço em Cristo, e essa voz nada mais é do que o eco da voz da Igreja e dos ensinamentos dos Apóstolos. ” 

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