por Pe Gabriel Ridenour
As orações aos santos são um costume que não se originou no paganismo, mas no judaísmo antigo, e sem dúvida fazia parte da Tradição Oral Apostólica.
Na Oração de Azarias, versículo 64, que se encontra na versão Septuaginta do Antigo Testamento, os justos falecidos são chamados a louvar ao Senhor:
"Ó espíritos e almas dos justos, bendizei ao Senhor; louvai-o e exaltai-o acima de tudo para sempre."
No Livro de Enoque, que Judas cita em sua epístola, é descrita a oração aos anjos no céu:
"E então Miguel, Uriel, Rafael e Gabriel olharam do céu e viram muito sangue sendo derramado sobre a terra, e toda a ilegalidade sendo praticada sobre a terra. E eles disseram uns aos outros: “A terra sem habitantes clama com a voz de seu choro até as portas do céu. E agora a vocês, os santos do céu, as almas dos homens fazem seu pedido, dizendo: ‘Levem nossa causa perante o Altíssimo’”. – 1 Enoque 9:1-3
Até hoje, os judeus hassídicos visitam os túmulos dos tzaddikim ou “justos” para buscar sua intercessão. De fato, o túmulo de Raquel perto de Belém, o terceiro local mais sagrado do judaísmo, é visitado por milhares de peregrinos judeus todos os anos que buscam sua intercessão. Isso está enraizado nas tradições rabínicas estabelecidas no Gênesis Rabbah:
"E RAQUEL MORREU E FOI SEPULTADA NO CAMINHO PARA EFRAT (35:19). Qual foi a razão de Jacó para enterrar Raquel no caminho para Efrata? Jacó previu que os exilados passariam por ali, então ele a enterrou lá para que ela pudesse orar por misericórdia para eles. Assim está escrito: “Uma voz é ouvida em Ramá... Raquel chorando por seus filhos...”
O livro Atos de Paulo e Tecla, do século II, descreve o apóstolo dirigindo-se aos santos em oração em seu martírio:
"Então Paulo ficou de pé, voltado para o leste, levantou as mãos para o céu e orou por um longo tempo, e em sua oração conversou com os Pais na língua hebraica, e então esticou o pescoço sem falar."
Embora esta seja uma obra apócrifa (mas não gnóstica), ela indica claramente que a prática era conhecida e aceita entre os cristãos do século II.
Orígenes de Alexandria explica a adequação de oferecer orações aos Santos:
"Agora, súplicas, pedidos e ações de graças podem ser oferecidos às pessoas sem impropriedade. Dois deles, a saber, pedidos e ações de graças, podem ser oferecidos não apenas aos Santos, mas às pessoas em geral, enquanto as súplicas devem ser oferecidas apenas aos Santos, caso haja um Paulo ou um Pedro, que possam nos beneficiar e nos tornar dignos de alcançar autoridade para o perdão dos pecados."– Sobre a Oração
As catacumbas também estão repletas de inscrições da era pré-nicena, tanto epitáfios quanto grafites, pedindo a intercessão dos falecidos.
Alguns exemplos do século III:
"O abençoado Sozon devolveu [seu espírito] aos nove anos de idade; que O Verdadeiro Cristo [receba] seu espírito em paz, e reze por nós."
"Gentanius, um fiel, em paz, que viveu vinte e um anos, oito meses e dezesseis dias, e em nossas orações peça por nós, porque sabemos que você está em Cristo."
"Reze por seus pais, Matronata Matrona. Ela viveu um ano, cinquenta e dois dias."
“Ático, durma em paz, seguro em sua segurança, e reze ansiosamente por nossos pecados.”
E isto do início do século IV:
"Anatólio fez isto para seu filho merecedor, que viveu sete anos, sete meses e vinte dias. Que seu espírito descanse bem em Deus. Reze por sua irmã."
Além disso, na Catacumba de São Sebastião, onde as relíquias de Pedro e Paulo foram escondidas durante as perseguições em meados do século III, há cerca de 600 inscrições grafadas pedindo a intercessão dos dois Apóstolos.
Em relação às orações dirigidas a Maria, na Gruta da Anunciação em Nazaré há uma inscrição que data do primeiro ao terceiro século.
“Sob o lugar sagrado de M[aria?] Eu escrevi lá os [nomes] A imagem que eu venerava Dela...”
Esta inscrição é difícil de decifrar porque as letras estão desgastadas. Mas ela indica uma crença na veneração da Virgem Maria na Igreja primitiva.
Outra inscrição no mesmo local diz “XE MAPIA” (Alegra-te Maria). Mais uma vez, a veneração de Maria e as orações pedindo sua intercessão são uma prática universal nas Igrejas apostólicas. Há uma oração particular chamada no Ocidente de Sub Tuum Praesidium (chamada Ὑπὸ τὴν σὴν εὐσπλαγχνίαν, em grego) que foi usada tanto no Oriente quanto no Ocidente. Anteriormente, o manuscrito mais antigo contendo a oração era de uma liturgia romana do século IX. No entanto, em 1917, a oração foi descoberta em um papiro egípcio datado de 250 d.C. A oração diz:
"Sob a tua compaixão nos refugiamos, Ó Theotokos!
Não desprezes as nossas orações em nossa angústia,
mas livra-nos do perigo,
única pura, única bendita."
É claro que isso aconteceu uma década antes mesmo de Constantino nascer, e a oração é sem dúvida muito mais antiga. Orígenes fala daqueles que, com mente sã, “exaltam” a Sempre Virgem Maria em seu comentário sobre o Evangelho de João. A palavra grega que Orígenes usa é doxazo (δοξάσω), glorificar – a mesma palavra usada no Novo Testamento para glorificar a Deus. Ele também demonstra como Maria é a mãe dos cristãos:
“Podemos, portanto, ousar dizer que os Evangelhos são os primeiros frutos de todas as Escrituras, mas que, entre os Evangelhos, o de João é o primeiro fruto. Ninguém pode compreender o seu significado, a menos que tenha repousado no peito de Jesus e tenha recebido, de Jesus, Maria como sua mãe também. Aquele que deve ser outro João deve tornar-se tal e deve ter-lhe sido mostrado, como a João, pelo próprio Jesus, Jesus tal como Ele é. Pois se Maria, como declaram aqueles que a exaltam com mente sã, não teve outro filho além de Jesus, e ainda assim Jesus diz à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho” (João 19:26) e não “Eis que também tens este filho”, então Ele praticamente disse a ela: “Eis Jesus, a quem tu geraste”. Não é verdade que todo aquele que é perfeito já não vive mais para si mesmo, mas Cristo vive nele; e se Cristo vive nele, então é dito a Maria: “Eis o teu filho Cristo”
E Metódio de Olimpo, em sua Oração sobre Simeão e Ana, escreve no início do século IV:
"Portanto, nós te pedimos, a mais excelente entre as mulheres, que se gloria na confiança de suas honras maternas, que nos mantenha incessantemente em sua lembrança. Ó Santa Mãe de Deus, lembre-se de nós, digo eu, que nos gloriamos em ti e que, em hinos augustos, celebramos a memória que viverá para sempre e nunca se desvanecerá."
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Mais do Antigo Testamento e tradição Judaica:
Ainda no Livro de Enoque, também podemos ver os Santos, sendo descritos intercedendo e rezando "pelos filhos dos homens"
"Ali tive outra visão: vi o lugar onde habitam os Santos e o lugar de descanso dos justos. Aí contemplei com meus olhos as moradas em meio dos anjos de justiça e seus lugares de descanso entre os Santos. Enquanto suplicam e oram pelos filhos dos homens, a justiça brota entre eles como a água e a misericórdia se pulveriza sobre eles como o sobre o rocio sobre a terra, pelos séculos dos séculos." Enoque 39
Outro exemplo é Tobias 12:15, quando o Arcanjo Rafael afirma trazer as orações a Deus.
"Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor."
Em 2 Mac 15:12-16, Onias, o Sumo Sacerdote, que já estava morto há várias décadas, e o Profeta Jeremias, que também estava morto há séculos, aparecem a Judas. Onias nos diz no versículo 14 que Jeremias é alguém que ama seus irmãos e ora fervorosamente pelos fiéis e por toda a cidade.
"Tomando a palavra, Onias disse: «Este é um homem que ama os seus irmãos e ora muito a favor do povo e da cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus. "
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